quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Aula da História – Capítulo 02 (1968 e 1969): Os Primeiros Anos...


A Hard Day’s Night é o terceiro álbum dos Beatles – lançado na Inglaterra em 1964, acompanhando o lançamento de um filme homônimo. Dirigido por Richard Lester, o filme (em preto e branco) mostrava a história de uma banda de rock que era perseguida por fãs histéricos! A banda (claramente inspirada nos próprios “besouros de Liverpool”), além de fugir dos fãs, era obrigada a dar entrevistas e fazer shows na televisão... No Brasil, o álbum e o filme foram lançados sob o título de: “Os Reis do Iê, Iê, Iê” (expressão derivada do “yeah, yeah, yeah”, contida no refrão da música “She Loves You”).

Segundo a “lenda”, após um dia exaustivo de trabalho, Ringo Star desabafou:

- It’s been a hard Day... and I looked around and saw it was dark... So I said: Night!

Ou, numa tradução livre (tão tosca quanto “Os Reis do Iê, Iê, Iê”):

- Foi um dia duro... e quando percebi já estava escuro... Então eu disse: Noite!

Esta frase serviu de inspiração para John Lennon e Paul McCartney escreverem a “baladinha” que retrata um cara apaixonado, que não se importa em trabalhar duro, de sol a sol, para enfim curtir a sua paixão...


Evidentemente, acho muito pouco provável que os garotos ingleses acompanhassem o “dia a dia” de Paul Brown, durante o início dos trabalhos em Cincinnati; mas certamente esta letra poderia ter sido inspirada no velho mestre!

Como vimos no capítulo anterior, Paul Brown era uma “lenda viva” da NFL – ele foi o primeiro treinador a gravar seus oponentes para estudá-los; a contratar uma equipe de assistentes profissionais em tempo integral; a testar o conhecimento de seus atletas em sala de aula; a usar o playbook; ele ajudou a desenvolver os novos capacetes (e outros equipamentos de proteção); exigiu de seus jogadores um cuidado extraordinário com a saúde (sob pena de serem “dedurados” pelos torcedores); e ainda quebrou a barreira do preconceito racial – valorizando o talento de jogadores negros e latinos (quando muitas equipes discriminavam-nos abertamente). Mas como ninguém é perfeito, seu jeito autoritário e “independente”, sem aceitar críticas ou sugestões (nem mesmo de seus empregadores e atletas); despertaram a ira de muitas pessoas – culminando em sua demissão do Cleveland Browns...

Em 1965 (dois anos após sua demissão), Paul Brown fora convencido a capitanear o projeto de uma nova equipe de futebol americano profissional; e graças ao aporte financeiro de ricos investidores; o apoio governamental do Estado de Ohio; a promessa de total autonomia em suas decisões esportivas; um acordo vantajoso de compartilhamento de uma moderna arena esportiva com uma equipe tradicional de Baseball (Cincinnati Reds); e um mercado potencial interessante na “Grande Cincinnati”; não foi difícil “amarrar as pontas” e “amadurecer a ideia”...


A American Football League (AFL) havia sido fundada em 1959, com o claro objetivo de “abocanhar” parte das receitas da National Football League (NFL); cujo sucesso estrondoso no período pós-Segunda Guerra Mundial era evidente – ultrapassando a popularidade até mesmo da antes “imbatível” Major League Baseball (MLB – até hoje uma das ligas profissionais mais bem sucedidas dos Estados Unidos).

Oito equipes (Houston Oilers, New York Titans, Buffalo Bills, Boston Patriots, Los Angeles Chargers, Dallas Texans, Oakland Raiders e Denver Broncos), divididas em duas divisões (Leste e Oeste), disputaram a primeira temporada da AFL. As campeãs de cada grupo se enfrentariam na final, valendo o título!


Em 1960, a final fora disputada entre Houston Oilers e Los Angeles Chargers – e os texanos venceram em casa por 24 x 16...


Em 1961, os Chargers (que haviam se mudado para San Diego) tiveram sua revanche – desta vez jogando em casa; mas os Oilers venceram seu segundo título da AFL (03 x 10, no dia 24.12.1961)!


Em 1962, Houston continuou soberano na Divisão Leste – mas desta vez enfrentou outra equipe texana (Dallas Texans) na final da AFL; e acabou derrotada, em casa, pelo placar de 17 x 20...


Em 1963, duas grandes mudanças: o atual campeão deixou o Texas e mudou-se para o Estado do Missouri, adotando o nome de Kansas City Chiefs; e o New York Titans deixou o Estádio Polo Ground (em Manhattan) e passou a mandar seus jogos no Queens (no Shea Stadium – próximo ao Aeroporto de LaGuardia). Por isso, assumiu o nome de New York Jets (e seu uniforme passou de azul marinho para verde e branco).

Mas a disputa pelo título se deu entre o Boston Patriots e o San Diego Chargers – com vitória da equipe californiana, que jogando em casa, venceu por expressivos 51 x 10!


Em 1964, os Chargers tiveram a chance de brigar pelo bi-campeonato – mas enfrentaram fora de casa o Buffalo Bills e foram derrotados por 20 x 07...


Em 1965, os Bills conquistaram seu bi-campeonato, novamente sobre os Chargers, mas desta vez jogando em San Diego! E a vitória se deu de modo incontestável: 00 x 23, no dia 26.12.1965!

Eis que chegamos à temporada de 1966...

Desde 1920, a NFL enfrentou (e derrotou) inúmeras ligas de futebol profissional; mostrando-se a mais rentável, equilibrada e interessante. Um exemplo foi a All-America Football Conference (AAFC), criada em 1946 e dominada pelo Cleveland Browns (considerado uma das maiores dinastias de todos os tempos) até sua temporada final (disputada em 1949). Apesar do “fracasso”, a AAFC originou três equipes que até hoje disputam a NFL: Browns, Colts e 49ers...

Porém, o sucesso das transmissões pela TV das partidas da AFL, ano após ano, vinha derrubando o interesse do público norte-americano por sua principal liga (NFL); bem como a disputa pelos melhores calouros vindos do futebol universitário (atraídos por melhores salários e maior visibilidade na mídia), também “empobreciam” o espetáculo como um todo!

Tex Schramm, o “homem forte” do Dallas Cowboys, secretamente contactou o proprietário do Kansas City Chiefs (Lamar Hunt), e ambos iniciaram as tratativas para unificar as duas ligas. Estas conversas não passaram pelos comissários (seja da NFL ou da AFL); até que o acordo estivesse praticamente “sacramentado”!


E em 08 de Junho de 1966, as partes envolvidas convocaram uma coletiva de imprensa em Nova York e anunciaram os termos do acordo:

As duas ligas se uniriam e se expandiriam a partir de 1970, prevendo 26 equipes (e duas outras numa eventual expansão futura), divididas em duas Conferências. Os campeões de cada Conferência se enfrentariam numa grande final, a ser realizada em campo neutro, no início do ano seguinte...

Além disso, nenhuma franquia existente poderia abandonar sua “zona metropolitana” sem a aprovação conjunta das duas ligas (havendo uma “compensação financeira” para equipes já estabelecidas a mais tempo – como Giants e Raiders, que passariam a dividir seu território com Jets e 49ers, respectivamente).

Por fim, as duas ligas realizariam um único Draft – encerrando a disputa pelos calouros mais talentosos; cuja ordem seria estabelecida conforme os resultados obtidos na temporada anterior (independentemente de qual liga pertencessem).

Nestes esforços de “integração” entre a AFL e a NFL, foram previstos amistosos de pré-temporada entre as equipes de cada liga; bem como o confronto entre os campeões, ao final da pós-temporada, em campo neutro – antecipando o sistema que seria adotado a partir de 1970. Eis que nascia o SUPER BOWL!

Cabe aqui uma observação: até 1965, a NFL era composta por 14 equipes, divididas em 02 Conferências: Leste (Dallas Cowboys, Cleveland Browns, Philadelphia Eagles, St. Louis Cardinals, Washington Redskins, Pittsburgh Steelers e New York Giants) e Oeste (Green Bay Packers, Baltimore Colts, Los Angeles Rams, San Francisco 49ers, Chicago Bears, Minnesota Vikings e Detroit Lions). E mesmo se somássemos as oito equipes da AFL, teríamos apenas 22 times...

Na prática, o acordo previa que seriam criadas (pelo menos) quatro novas equipes antes da unificação das ligas...

Mas infelizmente duas delas já estavam “prontas” para estrear em 1966: Atlanta Falcons e Miami Dolphins...


Como ambas estão localizadas no sudeste dos EUA, obviamente haveria um enorme desequilíbrio entre os grupos – pois tanto a NFL quanto a AFL dividiam suas equipes por critérios geográficos (Leste e Oeste); e as duas novas equipes só poderiam ser alocadas dentro de grupos do “Leste”...

A solução foi dividi-las: os Falcons passariam a integrar a Conferência Leste da NFL; e os Dolphins entrariam na Divisão Leste da AFL...


Em 1966, o Kansas City Chiefs viajou até Buffalo, para enfrentar os Bills na final da AFL; e venceu o jogo por 31 x 07! Com isso, a equipe alvi-rubra garantiu sua vaga no primeiro Super Bowl da história – disputado no Los Angeles Memorial Coliseum, em 15 de Janeiro de 1967. Mas o Green Bay Packers, campeão da NFL, foi soberano e derrotou os Chiefs com facilidade: 35 x 10!


Enquanto isso, em Cincinnati, Paul Brown iniciava uma “corrida contra o relógio” para aproveitar esta “expansão”. Era preciso construir toda a infra-estrutura de treinamentos, estádio, registros em órgãos públicos, contratação de comissão técnica e jogadores, equipamentos e acessórios, aprovação da liga etc.

Tudo muito caro... e principalmente demorado!


E apesar do acordo firmado com o Cincinnati Reds, visando o compartilhamento do futuro Riverfront Stadium; era certo que o mesmo não ficaria pronto antes de 1970 – e assim como o projeto dos Bengals; muitos outros investidores também vislumbraram uma enorme oportunidade com a criação de uma equipe profissional em outros mercados...

Em 1967, por exemplo, nascia o New Orleans Saints...


Os Saints entraram na Conferência Oeste da NFL – que agora contava com 16 equipes (divididas em dois grupos de 08 times cada); voltando a ser equilibrada...

Restava apenas uma vaga “garantida” antes do início da temporada de 1970...

Uma vaga na Divisão Oeste da AFL...

Os fundadores dos Bengals sabiam que esta era uma “oportunidade de ouro”; e se deixassem que outra sede recebesse uma equipe agora, poderia ser o fim do projeto... já que as outras duas vagas futuras poderiam demorar anos (quiçá décadas)! E também sabiam das pretensões de Seattle, Memphis e Portland – fortes candidatas a aproveitar esta expansão...

Eis que no dia 24 de Maio de 1967, Pete Rozelle (Comissário encarregado da gestão nesta fase de transição que antecedeu à unificação das duas ligas) convocou a imprensa e declarou:

- Cincinnati, a city of 1,3 milion population, that has had a Professional baseball team since 1869, gained a pro football team. The American Football League granted a franchise its 10th to Cincinnati, with the approval of the National Football League; and begin play in 1968...


Traduzindo: “Cincinnati, cidade com 1,3 milhão de habitantes, que detém uma equipe profissional de baseball desde 1869, receberá uma equipe de futebol americano profissional. A American Football League concede sua 10ª franquia à Cincinnati, com a anuência da National Football League; e a equipe iniciará suas atividades em 1968...


Apesar da festa... havia muito a ser feito!

E muito pouco tempo pela frente!

Paul Brown, acompanhado de seu filho Mike e de outros membros, trabalharam arduamente para conseguir celebrar um acordo com a Universidade de Cincinnati (única na cidade a dispor de um estádio em condições de receber partidas de futebol americano profissional). Felizmente, os Bearcats concordaram em emprestar o Nippert Stadium (pelo menos até que o Riverfront estivesse concluído).


Em seguida, era preciso montar um time...

Em dezembro de 1967, os Bengals contrataram seu primeiro jogador:


John Stofa nasceu em 26 de Junho de 1942, em Johnstown, Pennsylvania. O Quarterback fora draftado em 1966, pelo recém-criado Miami Dolphins; e participou de oito jogos como profissional (sendo apenas dois deles como titular na equipe da Flórida). Seus números (31 passes completados em 59 tentativas, conquistando 476 jardas aéreas e 04 Touchdown’s) podem parecer modestos; mas não custa lembrar que o futebol americano jogado nos anos de 1960 era muito diferente daquele que vemos hoje em dia...

Enquanto as batalhas travadas nos escritórios prosseguiam, em campo, o Houston Oilers voltou a vencer a Divisão Leste da AFL; e na final, encararia o Oakland Raiders, fora de casa, valendo o título da liga e a vaga no segundo Super Bowl! Mas a equipe californiana não deu chances aos texanos: venceram por 40 x 07!

Em 14 de Janeiro de 1968, Green Bay Packers conquistou seu segundo título no Super Bowl II, varrendo os Raiders por 33 x 14, no Estádio Orange Bowl, em Miami...


E já que entramos em 1968, uma curiosidade: através de uma “permissão especial” da AFL, os Bengals tiveram seu maior Draft da história – escolhendo 41 atletas universitários nas 17 rodadas usuais (diferentemente do que ocorre hoje em dia: apenas sete rodadas de Draft). O objetivo, claro, era adquirir atletas suficientes como “moeda de troca” para a formação do “primeiro elenco”; mas alguns destes novatos se destacariam – inclusive sendo convocados para o Pro Bowl de 1969!

Paul Brown, recém admitido no Hall da Fama da NFL (graças ao seu incrível retrospecto com os Browns: 115 vitórias, 49 derrotas e 06 empates; com 07 títulos de Conferência e 03 títulos da NFL); vestiu seu sobretudo escuro, seu chapéu e mais uma vez foi a campo – exigindo total empenho dos garotos durante os treinamentos...


Mas apesar do ritmo intenso imposto pelo técnico “linha dura”, a equipe de Cincinnati só seria testada quando a pré-temporada começasse...

A ansiedade era enorme...

Não apenas entre a comissão técnica e os atletas, mas também entre os jornalistas esportivos e seus novos adversários (que gostariam de saber se Paul Brown faria “outro milagre”); e principalmente entre os moradores de Cincinnati e região!

Finalmente, em 03 de Agosto de 1968, a espera acabou!


Jogando em casa, diante de 21.682 privilegiados torcedores, Cincinnati encarou o poderoso Kansas City Chiefs (bi-campeão da AFL, que terminou a temporada de 1967 com 09 vitórias e 05 derrotas); e mostrou sua garra – encarando de igual para igual os experientes adversários! Mas infelizmente os Bengals foram derrotados por 14 x 38...

A primeira partida disputada fora de casa também não terminou bem (derrota por 15 x 13 para o Denver Broncos, em 10.08.1968); mas a equipe mostrou-se ainda mais aguerrida e, mesmo enfrentando a altitude e a torcida fanática no Mile High Stadium; os Bengals perderam por uma diferença de apenas uma posse de bola!


Na segunda partida em casa, disputada no dia 17.08.1968, Cincinnati foi ainda melhor – mostrando uma defesa sólida, capaz de deter o poderoso ataque do Buffalo Bills (bi-campeões da AFL); e cedendo apenas 10 pontos, na vitória dos visitantes por 10 x 06...

Ok... estamos falando de pré-temporada...

Ok... estamos falando de uma equipe recém-criada...

Mas impossível deter o desânimo que começou a se abater entre os torcedores...

Felizmente, o experiente Paul Brown não deixou que o pessimismo contaminasse seu grupo de jogadores... Ele sabia que a primeira vitória estava próxima! Ele só não sabia o quão significativa esta vitória seria no futuro...


No dia 25 de Agosto de 1968, Cincinnati viajou até Pittsburgh (equipe da NFL), e mesmo jogando fora de casa, atropelou os Steelers por 19 x 03! Uma vitória maiúscula e incontestável, para lavar a alma da torcida!

E acompanhando esta tendência de crescimento, na última partida da pré-temporada, disputada em 30.08.1968; os Bengals foram à Nova York e venceram os Jets por 09 x 13 – surpreendendo o alvi-verde (que terminou a temporada de 1967 com 08 vitórias, 05 derrotas e 01 empate; e por muito pouco não fora finalista da Divisão Leste da AFL)!

Apesar da goleada sofrida na estréia e das três derrotas nas primeiras três partidas; era nítido que os garotos estavam evoluindo a cada jogo – mostrando méritos defensivos e ofensivos; bem como uma disciplina tática impressionante! Como todos os novatos recém chegados à liga profissional, faltava-lhes experiência... mas isto só viria com o tempo! E as duas vitórias nas últimas duas partidas da pré-temporada serviram para reacender as expectativas da torcida (e por que não dizer do próprio grupo de jogadores!).

Mas nossa estréia “oficial” não foi “exatamente” como imaginávamos...


Em 06 de Setembro de 1968, jogando na Califórnia, os Bengals perderam para San Diego por 29 x 13... Esta derrota pode ser considerada particularmente ruim, pois os Chargers eram nossos rivais de divisão (e toda derrota sofrida para adversários diretos, num campeonato curto como a AFL, deve ser lamentada)...

Mas no dia 15 de Setembro de 1968, em jogo válido pela segunda rodada, os Bengals entraram em campo pela primeira vez em Cincinnati; e atropelaram o Denver Broncos – vencendo-os pelo placar de 24 x 10! E a festa não parou por aí: na semana seguinte (22.09.1968), também no Nippert Stadium, batemos o Buffalo Bills por 34 x 23!


A euforia tomou conta de Cincinnati! Paul Brown estava prestes a repetir o milagre de Massillon! O experiente treinador era aclamado pelas ruas! Dois jogos em casa e duas vitórias! Invencibilidade! Apoio total e irrestrito dos torcedores!

Mas...

E sempre existe um “mas”...

Os Bengals perderam as próximas SETE partidas consecutivas...

4ª Rodada – 29.09.1968 – Bengals 10 x 31 Chargers;

5ª Rodada – 06.10.1968 – Broncos 10 x 07 Bengals;

6ª Rodada – 13.10.1968 – Chiefs 13 x 03 Bengals;

7ª Rodada – 20.10.1968 – Bengals 22 x 24 Dolphins;

8ª Rodada – 27.10.1968 – Raiders 31 x 10 Bengals;

9ª Rodada – 03.11.1968 – Bengals 17 x 27 Oilers;

10ª Rodada – 10.11.1968 – Bengals 09 x 16 Chiefs.

Com a campanha arruinada e já sem chances matemáticas de chegar aos playoffs, os Bengals jogaram sem pressão em Miami – e conseguiram derrotar os Dolphins, no dia 17.11.1968, pelo placar de 38 x 21!


Mas nos últimos três jogos da temporada... outras três derrotas:

12ª Rodada – 24.11.1968 – Bengals 00 x 34 Raiders;

13ª Rodada – 01.12.1968 – Patriots 33 x 14 Bengals;

14ª Rodada – 08.12.1968 – Jets 27 x 14 Bengals.

Mesmo com a péssima campanha (03 vitórias e 11 derrotas); e a última colocação na Divisão Oeste da AFL; três atletas novatos foram chamados para o Pro Bowl – o Center Bob Johnson; o Running Back Paul Robinson e o Tight End Bob Trumpy!


Bob Johnson estudou na Universidade do Tennessee e foi a primeira escolha dos Bengals no Draft de 1968 (sendo a segunda escolha “geral”). Pode soar estranha a seleção de um “Center” numa posição tão alta no Draft; mas Paul Brown sabia que a proteção ao Quarterback seria essencial – ainda mais quando seu “homem de confiança” ainda não tinha a experiência necessária na liga profissional. E Johnson desempenhou bem o seu papel...


Paul Robinson, vindo da Universidade do Arizona, sequer fora a primeira escolha para a posição de Running Back... A terceira escolha de Cincinnati (2ª Rodada – 55ª “geral”) foi Tom Smiley, RB da Universidade de Lamar! E Smiley foi “relativamente bem” (63 corridas, garantindo 146 jardas e 01 TD); mas Robinson (5ª escolha dos Bengals, na 3ª rodada – 82ª “geral”) assumiu a titularidade da equipe e estabeleceu um “padrão elevado” para o jogo corrido: 238 corridas para conquistar 1.023 jardas, com 08 TD’s! Com estes números expressivos, ganhou “com folga” o título de Rookie of the Year!


O último calouro convocado para o “jogo das estrelas” foi Bob Trumpy! O Tight End, recém chegado da Universidade de Utah, somente fora draftado na 12ª Rodada (escolha nº 301 no “geral”); e mesmo assim foi nosso melhor recebedor – com 37 recepções para 639 jardas e 03 TD’s!


Mas o jogador que mais pontuou neste primeiro ano foi o Kicker/Punter Dale Livingston: 59 pontos, sendo 13 Field Goal’s (em 26 tentativas) e 20 Conversões de Pontos Extras! Pelo visto... o ataque não era “brilhante”, né?

Stofa foi o QB titular na maioria dos jogos – e acertou 85 de 177 passes tentados, garantindo 896 jardas (aproveitamento de 48%) e 05 TD’s. Porém, sofreu 05 Interceptações e seu Passer Rating foi de apenas 60,8. Apesar de ter sido o melhor na posição, enfrentou grande concorrência de Dewey Warren (47 passes completados em 80 tentativas, conquistando 506 jardas; mas apenas 01 TD e 04 INT; com rating de 60,7) e Sam Wyche...

O New York Jets venceu com tranqüilidade a Divisão Leste (11 vitórias e 03 derrotas); e recebeu o campeão da Divisão Oeste (Oakland Raiders – 12 vitórias e 02 derrotas) em seu estádio no dia 29.12.1968. E para delírio de sua apaixonada torcida, conquistou seu primeiro título da AFL ao vencer por 27 x 23 – carimbando seu passaporte para o Super Bowl III (onde enfrentaria o Baltimore Colts)!

Em 12 de Janeiro de 1969, os Jets (comandados por Joe Namath) conquistaram o primeiro título de Super Bowl da AFL – derrotando os Colts por 16 x 07...


A temporada de 1969 começou com grande expectativa em Cincinnati!


Greg Cook, Quarterback da Universidade de Cincinnati, foi a primeira escolha no Draft (1ª Rodada – 5ª escolha “geral”). A estrela dos Bearcats conquistou expressivas 554 jardas em uma única partida (vitória de virada sobre os Redhawks pelo placar de 23 x 21). Após a partida, Paul Brown já não tinha dúvidas: “Aquele Quarterback... Ele será a nossa primeira escolha!” John Stofa, sem espaço no elenco, principalmente após sua primeira temporada irregular, teve seu contrato rescindido – e acabou voltando para os Dolphins...


Outra boa escolha dos Bengals foi o Linebacker Bill Bergey (2ª Rodada – 31ª escolha “geral”), vindo da Universidade de Arkansas State. Apesar das estatísticas de jogadores de defesa não serem confiáveis antes da temporada de 1976; sabemos que Bergey fez um excelente trabalho porque ganhou o prêmio de Jogador Defensivo Novato do Ano!

Isto sem falar na retenção de talentos (como Paul Robinson e Bob Trumpy – ambos convocados para o segundo Pro Bowl de suas carreiras) e no trabalho intenso imposto por Paul Brown – mesmo durante a inter temporada...

Tudo conspirava para um ano ainda melhor!

E o mês de setembro mostrou-se maravilhoso, fomentando ainda mais as expectativas da torcida de Cincinnati!

1ª Rodada – 14.09.1969 – Bengals 27 x 21 Dolphins;

2ª Rodada – 21.09.1969 – Bengals 34 x 20 Chargers;

3ª Rodada – 28.09.1969 – Bengals 24 x 19 Chiefs!


Porém, nesta partida contra Kansas City, Greg Cook (até então um dos destaques da linha ofensiva dos Bengals) sofreu uma grave lesão em seu ombro direito (após uma violenta pancada do Linebacker Jim Lynch); que o tirou da partida e o manteve afastado durante as próximas três rodadas...

E o rendimento da equipe desabou...

4ª Rodada – 04.10.1969 – Chargers 21 x 14 Bengals;

5ª Rodada – 12.10.1969 – Bengals 07 x 21 Jets;

6ª Rodada – 19.10.1969 – Bengals 23 x 30 Broncos...

Desesperados com a possível ruína da temporada, os médicos trataram de recuperar o QB novato no menor tempo possível – e não se atentaram para a gravidade da lesão! Alguns anos depois, Cook revelou seu drama:

- Eu tomei injeções de cortisona e joguei com dor, mas meu ombro nunca mais foi o mesmo... E a cada pancada, ele se deteriorava ainda mais! Mas eu era jovem, sabia do meu potencial e não queria perder esta oportunidade de jogar na minha casa...


Greg voltou na 7ª Rodada – contra o mesmo Kansas City Chiefs (desta vez fora de casa, no dia 26.10.1969); mas não conseguiu evitar a 4ª derrota consecutiva de Cincinnati – perdemos pelo placar de 42 x 22...

O próximo compromisso dos Bengals seria no Nippert Stadium, contra o poderoso Oakland Raiders, em 02 de Novembro de 1969. Adversário perigoso, até então invicto, e para piorar nosso rival de divisão! Mas contrariando os pessimistas, Cincinnati atropelou os favoritos californianos pelo placar de 31 x 17!


Estávamos com uma campanha de 04 vitórias e 04 derrotas...

Tínhamos boas chances de chegar à pós-temporada!

Mas ninguém imaginaria o que aconteceria na próxima rodada...

No dia 09.11.1969, jogando no imponente estádio Astrodome, enfrentamos os Oilers. Partida equilibrada, com muita alternância no placar, mas faltando 22 segundos para terminar o jogo, Houston vencia por 31 x 28...


Eis que entra em campo o Kicker Horst Muhlmann (alemão nascido em Dortmund, draftado pelos Chiefs em 1969, mas contratado pelos Bengals antes do início da temporada, para ocupar o lugar do impreciso Dale Livingston – que passaria a ser apenas o Punter); para um Field Goal curto – apenas 18 jardas...

Muhlmann preparou... correu... chutou...

E marcou os três pontos!

Como não havia “prorrogação” durante a temporada regular, esta foi a primeira partida da história dos Bengals que terminaria empatada...

Horst Muhlmann (assim como aconteceu com Dale Livingston na temporada de 1968) foi o atleta que mais pontuou para os Bengals nesta temporada de 1969: 80 pontos, sendo 16 FG’s (em 24 tentativas) e 32 Conversões de Pontos Extras (em 33 chutes)...

Infelizmente, o final da temporada foi um verdadeiro “show de horrores” – com Greg Cook claramente se “arrastando” em campo; um ataque pouco inspirado (incapaz de anotar 20 pontos num jogo); e uma defesa cedendo muitas jardas e pontos aos rivais...

10ª Rodada – 16.11.1969 – Bengals 14 x 25 Patriots;

11ª Rodada – 23.11.1969 – Jets 40 x 07 Bengals;

12ª Rodada – 30.11.1969 – Bills 16 x 13 Bengals;

13ª Rodada – 07.12.1969 – Raiders 37 x 17 Bengals;

14ª Rodada – 14.12.1969 – Broncos 27 x 16 Bengals...

E a temporada 1969 terminou para Cincinnati, com um retrospecto de 04 vitórias, 09 derrotas e 01 empate – na última colocação da Divisão Oeste da AFL...

Mesmo jogando “no sacrifício” durante boa parte da temporada, Greg Cook fez um excelente trabalho: acertou 106 dos 197 passes tentados, conquistando 1.854 jardas (aproveitamento de 53,8%) e 15 TD’s. Seu Rating de 88,3 só não foi melhor em virtude das 11 Interceptações sofridas... E mesmo quando precisou ser substituído, seu reserva Sam Wyche deu conta do recado: completou 54 dos 108 passes tentados, garantindo 838 jardas (aproveitamento de 50%), com 07 TD’s e apenas 04 INT’sRating de 82,3...


No jogo terrestre, Paul Robinson foi chamado para seu segundo Pro Bowl – mas seus números foram bem inferiores àqueles de sua temporada de estréia: precisou de 160 tentativas para correr 489 jardas e anotar 04 TD’s. O melhor corredor dos Bengals na temporada foi o segundo-anista Jess Phillips (118 corridas para 578 jardas e 03 TD’s)...


Também tivemos novidades no jogo aéreo – Eric Crabtree conquistou 855 jardas em 40 tentativas e anotou 07 TD’s; superando por muito pouco o também convocado para o seu segundo Pro Bowl Bob Trumpy (37 recepções para 835 jardas e 09 TD’s).

A última temporada da American Football League foi decidida de forma diferente do que vinha ocorrendo nos últimos anos:

Desta vez, as duas melhores equipes de cada Divisão se classificaram para a rodada de playoffs – e o 1º colocado da Divisão Leste encararia o 2º colocado da Divisão Oeste; enquanto o 1º colocado do Oeste enfrentaria o 2º do Leste; e apenas os vencedores passariam para a final da AFL.


Em 20.12.1969, jogando no Shea Stadium, o New York Jets (1º colocado da Divisão Leste) enfrentou o Kansas City Chiefs (2º colocado da Divisão Oeste). E saiu de campo derrotado – sendo eliminado pelo placar de 06 x 13...

Já na outra semi-final, disputada no dia 21.12.1969, na casa do Oakland Raiders (campeão da Divisão Oeste); nenhuma surpresa: vitória esmagadora dos Raiders (56 x 07) sobre o Houston Oilers (segundo colocado na Divisão Leste).

A última final da AFL, disputada em 04 de Janeiro de 1970, no Oakland-Alameda County Coliseum, para surpresa de boa parte dos espectadores, terminou com vitória dos Chiefs por 07 x 17!

E Kansas não parou de surpreender: no Super Bowl IV, disputado no Tulane Stadium (em Nova Orleans), em 11 de Janeiro de 1970; os Chiefs atropelaram o Minnesota Vikings pelo surpreendente placar de 23 x 07!


Este foi o último ato da bem sucedida liga esportiva, que ousou desafiar a “onipotência” da NFL e, de certo modo, conquistou seus objetivos!

E o mais importante: serviu de “porta de entrada” e “trampolim” para 10 grandes equipes do futebol americano moderno...

Entre elas nosso querido Bengals...


Como vimos, os primeiros dois anos de Cincinnati não foram “excelentes” (07 vitórias, 20 derrotas e 01 empate); mas diversos fatores explicam este começo “complicado”: a inexperiência de nossos atletas (a maioria deles em sua segunda temporada); o nível de nossos oponentes; as enormes distâncias percorridas pela equipe (pois Cincinnati estava muito mais próxima da Costa Leste do que seus rivais) etc.

Sem dúvida tivemos um “Hard Day’s Night”...



Mas a década seguinte seria muito melhor!

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