Olá, meus amigos!
Com o fim da temporada 2013 (após a surpreendente
goleada do Seattle Seahawks sobre o Denver Broncos, no Metlife Stadium, pelo placar de 43 a 08, no Super Bowl XLVIII); teremos algum tempo de “inatividade” em Cincinnati...
Mas não pensem que este blog entrará em férias!
Muito pelo contrário!
Vou aproveitar este tempo sem muitas novidades sobre a
equipe atual e recapitular TODA
a história dos Bengals – começando
pela biografia de nosso fundador; passando pelo começo complicado no final dos
anos de 1960 (ainda jogando pela AFL); nossa entrada na NFL e a conquista do respeito dos rivais nos anos
de 1970; falaremos também dos “anos dourados” de 1980; da “década perdida”
de 1990; do renascimento midiático da
equipe nos anos 2000... e chegaremos
à promissora “Era Dalton-Green”!
Neste primeiro capítulo, falaremos do homem que inventou o
futebol americano moderno; criando verdadeiras dinastias por onde passou (seja
no High School, no Futebol Universitário ou no Futebol Profissional). Este homem fundou
nosso amado Bengals (cujo estádio ainda
hoje leva seu nome) e também nosso maior rival (que por ironia do destino, também
carrega seu sobrenome)! Ele morreu aos 82 anos, após uma vida inteira dedicada
ao esporte; mas seu trabalho estará para sempre imortalizado no Hall da Fama da NFL...
Quem foi este cara?
Paul Eugene Brown
nasceu em 07 de Setembro de 1908, na
pequena e pacata cidade de Norwalk, Ohio (cerca de 60 milhas à oeste de Cleveland ou 200 milhas à nordeste de
Cincinnati). Aos nove anos de idade,
sua família mudou-se para Massillon,
OH (cidade situada a aproximadamente
60 milhas
ao sul de Cleveland – vizinha à Canton, conhecida por abrigar o Hall da Fama da NFL).
Quando as primeiras equipes profissionais de futebol
americano foram fundadas (no início da década de 1920), o foco das atenções do
público permanecia centrado na rivalidade entre as equipes das “Universidades” (College’s) e do “Ensino
Médio” (High School’s). E foi
bem nesta época (mais precisamente em 1922)
que Paul começou a estudar na Massillon Washington High School – cuja
equipe era conhecida como “Tigers”!
Coincidência? Eu acho que não...
Curiosamente, o primeiro esporte praticado no colégio pelo
jovem Brown não foi o futebol
americano – e sim o atletismo!
Por ser menor e mais leve que os outros garotos, seus professores indicaram o Salto com Vara! Mas o treinador Dave Stewart acreditou que o garotinho
“mirrado” poderia jogar futebol – e em 1924,
Paul assumiu o posto de Quarterback...
Stewart não
poderia ter feito uma escolha melhor! Sob o comando de Paul, os Tigers tiveram
um retrospecto de 15 vitórias e apenas 03 derrotas!
Em 1925, Paul Brown entrou na Universidade de Ohio State, com a esperança de jogar
pelos Buckeyes! Porém, a
concorrência era enorme – e o garoto de Norwalk
nunca chegou a ser aprovado nas “peneiras internas” da faculdade...
O jeito foi se transferir para a Universidade de Miami, em Oxford, OH; onde voltou
a ser QB! E sob o comando de Chester Pittser, em 1928, Brown foi eleito para a seleção dos melhores jogadores do Estado de
Ohio, segundo a Associated Press! Em duas temporadas comandando o ataque de Miami (favor não confundir com a bela
cidade litorânea na Flórida), Paul conquistou 14 vitórias e apenas 03
derrotas!
Em 1929, Paul casou-se com Katie Kester (sua namorada desde os tempos na Massillon Washington).
Seu sonho era continuar jogando futebol –
mas como seus dias de universitário chegaram ao fim e o futebol profissional
nos EUA ainda “engatinhava”; o jeito foi trabalhar como técnico na Severn School (escola preparatória de
ingresso na Academia Naval, situada em Severna
Park , Estado de Maryland).
Foram dois anos à frente da equipe – conquistando 12
vitórias, 02 derrotas e 01 empate! Em 1930,
seu primeiro ano como treinador, Paul
terminou a temporada invicto e, de quebra, conquistou o título de campeão
estadual!
Em 1932, Brown voltou para Massillon – com o objetivo de resgatar as glórias dos “Tigers”, após seis temporadas ruins
(ou seja: desde a partida do treinador Stewart)!
Para se ter uma ideia, em 1931, a MWHS conseguiu apenas 02 vitórias e 10
derrotas...
Paul Brown,
apesar da pouca idade, já mostrava suas principais características:
disciplinador (por vezes autoritário) e muito exigente com seus atletas! A
dedicação ao jogo era essencial – e tornou-se famosa a dispensa de seu
Assistente (tudo porque ele se atrasou para o treino porque precisou trabalhar
até tarde na fazenda onde vivia)... E mais: nenhum jogador dos Tigers permanecia sentado no banco de
reservas durante a partida! Paul
exigia que eles permanecessem treinando (e se aquecendo) o tempo todo...
Seu esquema de jogo misturava as estratégias dos treinadores
Jimmy DeHart (da Universidade de Duke) e Noble Kizer (Purdue),
privilegiando a velocidade sobre a força bruta!
E os resultados em campo não
demoraram a aparecer...
Logo em sua primeira temporada, a equipe conquistou 05
vitórias, 04 derrotas e 01 empate. Sem dúvida, houve um avanço (quando
comparamos com a campanha de 1931),
mas Paul estava longe de estar
satisfeito...
Em 1933, os Tigers conquistaram 08 vitórias e apenas
02 derrotas – mas foram derrotados por seu maior rival (Canton McKinley High School).
Curiosamente, o mascote da escola de Canton era um Bulldog...
Coincidência? Eu acho que não...
Em 1934, a MWHS venceu todos os seus jogos... mas
novamente perdeu para Canton por 21
x 06 (na última partida da temporada)! Com isso, a pressão da torcida de Massillon aumentou – assim como cresceu
o nível de exigência de Paul Brown
sobre seus discípulos, para enfim “quebrar a freguesia”! E em 1935, os Tigers não apenas terminaram a
temporada invictos, como finalmente derrotaram os Bulldogs!
Nas cinco temporadas seguintes, Paul Brown perdeu um único jogo: derrota em New
Castle , Pennsylvania
(Coincidência? Eu acho que não...), pelo placar de 07 x 00 – quando TODOS os seus jogadores estavam
gripados...
O treinador Brown
manteve sua postura rígida e autoritária, exigindo muito dos garotos durante os
treinamentos e jogos. Mas seu sucesso também pode ser explicado por um inovador
sistema de recrutamento de novos talentos (atraídos pelo sucesso dos Tigers), independentemente da religião
ou raça (numa época em que muitos garotos negros eram proibidos de jogar em
determinadas escolas da região norte dos EUA).
Em 1936, Paul Brown convenceu os dirigentes da
escola que o sucesso dos Tigers
exigia a ampliação das arquibancadas do estádio (pois muitos fãs não conseguiam
assistir aos jogos). Com isso, iniciaram as reformas que triplicariam os
assentos (passando de 7.000 para 21.000 lugares) – sendo concluída em 1939.
Hoje, este estádio também se
chama “Paul Brown Stadium”!
O auge da carreira de Brown
em Massillon ocorreu na temporada de
1940 – após a vitória sobre a Toledo’s Waite High School! Ambas
terminaram a temporada de 1939
invictas (e por isso reivindicaram o título de campeãs estaduais). Mas o
tira-teima só ocorreu em 1940 – e a
equipe de Brown venceu por 28 x 00!
O esquadrão dos Tigers de 1940 ainda hoje é lembrado como um dos
melhores times de futebol americano no High
School de todos os tempos!
Durante seus nove anos à frente da MWHS, Paul Brown
inventou o “Playbook” (uma espécie
de “cartilha”, listando as jogadas treinadas ao longo da semana) e testou
inúmeras novidades táticas (muitas delas em uso até hoje na NFL!). Seus números finais foram de 80
vitórias (35 delas consecutivas), 08 derrotas e 02 empates. Conquistou o título
de campeão estadual por seis vezes e o título nacional quatro vezes. E o mais
importante: os Tigers derrotaram os Bulldogs seis vezes consecutivas!
Coincidência? Eu acho que não...
A imprensa esportiva o apelidou de “Milagreiro de Massillon” (Miracle
Man of Massillon), e seu sucesso foi tamanho que o destino levou-o de volta
à Ohio State (a mesma universidade
que desprezou seu talento como atleta); mas desta vez como treinador!
Pela primeira vez, Paul
Brown tornou-se treinador de uma equipe do Futebol Universitário... E seu estilo de jogo, criado para os
garotos do Ensino Médio, também
funcionou muito bem na Universidade!
Logo em sua primeira temporada (1941),
os Buckeyes venceram quase todos os
jogos da temporada regular (a única derrota veio fora de casa, contra a
Universidade de Northwestern – e sua
estrela ascendente Otto Graham). Na
partida final, contra a Universidade de Michigan
(franca-favorita), os garotos de Brown
conseguiram empatar o jogo em 20 x 20 – e a equipe de Ohio terminou empatada na segunda posição da Conferência Oeste (equivalente à atual “Big Ten" da NCAA)!
Graças ao ataque japonês à base de Pearl Harbor em 07 de
Dezembro de 1941, os Estados Unidos
entraram na Segunda Guerra Mundial –
e a temporada de 1942 esteve
ameaçada... mas a maioria das equipes universitárias conseguiu conciliar seu
“programa de futebol” com as “exigências militares”. E mesmo perdendo muitos
talentos, os Buckeyes venceram a Conferência Oeste pela primeira vez em
sua história!
Porém, com o agravamento da guerra na Europa e no Pacífico, a
temporada de 1943 foi
particularmente desastrosa para Paul
Brown e sua Ohio State...
Contando apenas com garotos sub-17 (ainda em treinamento para o combate), os Buckeyes terminaram a temporada com 03
vitórias e 06 derrotas...
Em 1944, Brown fora convocado pelo Exército Norte-Americano para trabalhar
como treinador da equipe na base militar de Great Lakes (nos arredores de Chicago).
Apesar de seu pouco tempo no comando dos Bluejackets,
Paul conseguiu implementar seu
estilo de jogo – e descobriu jogadores talentosos como o Defensive End George Young e o Halfback
Ara Parseghian. Mesmo com as derrotas para Notre Dame e para a sua ex-equipe (Ohio St.), Paul Brown
terminou a temporada de 1944 com 09
vitórias, 02 derrotas e 01 empate...
Em Setembro de 1944, Arch Ward (influente Editor-Chefe de Esportes do jornal Chicago Tribune), propôs a criação de
uma nova liga de futebol americano profissional – chamada de All-America Football Conference (AAFC), para competir com a National Football League (NFL) tão logo a Segunda Guerra Mundial se encerrasse... Ward trabalhou
para articular a criação desta liga – e conseguiu investidores interessados em
bancar a criação de pelo menos oito equipes, espalhados por cidades como Los Angeles, Nova York, San Francisco...
e Cleveland!
Arthur B. “Mickey”
McBride, milionário que fez sua fortuna com táxis e jornais, adquiriu a
franquia de Cleveland – apostando
que o esporte profissional renderia ótimos frutos no futuro... McBride ofereceu
um salário anual de US$ 17.500,00
(pode parecer pouco para os padrões atuais, mas que hoje equivaleria a cerca de
US$ 226.918,00) – mais do que
qualquer treinador já havia recebido (seja no esporte profissional ou no universitário)!
Em 08 de Fevereiro de
1945, Brown aceitou a proposta
de McBride – dizendo que “estava
triste por deixar a Ohio State, mas não podia recusar uma proposta como esta,
pensando no seu futuro e no futuro de sua família”. Sua decisão
revoltou os funcionários da Universidade (que esperavam seu retorno ao fim da
Guerra). Mas como seu atual compromisso era com os Bluejackets, Paul
continuou se preparando para a temporada de 1945 na base naval de Great
Lakes...
Neste ano, seus melhores jogadores foram transferidos para
bases militares na Costa Oeste (em
especial para combater no Oceano
Pacífico); e a equipe de Paul Brown
começou mal a temporada: 04 derrotas e 01 empate nos primeiros 05 jogos... mas
com a vitória dos EUA e o retorno
dos principais atletas antes do final da temporada, os Bluejackets conseguiram seis vitórias consecutivas – incluindo a
“vingança” contra Notre Dame
(derrotando-os por 39 x 07)!
Em 1946, a equipe
de Cleveland havia contratado muitos
jogadores – incluindo Otto Graham (Quarterback da Universidade de Northwestern que derrotou os Buckeyes em 1941). A maioria dos atletas veio da Ohio State, Great Lakes
e da Massillon (portanto já
conheciam o estilo exigente do treinador)...
Parêntesis rápido: em Maio
de 1945, McBride realizou uma pesquisa para escolher o nome de sua nova
franquia – e os torcedores votaram por “Cleveland
Panthers” (em homenagem a uma antiga equipe de futebol americano, fundada
em 1919 e extinta em 1933). Mas Paul
Brown vetou esta escolha, alegando que:
- A velha equipe dos Panthers faliu... e não quero carregar um legado
de derrotas para uma nova equipe!
Em Agosto, McBride realizou uma nova votação – e
desta vez o nome escolhido foi “Browns”
(em homenagem ao seu treinador). Novamente Paul
foi contrário – mas desta vez o proprietário da franquia “bateu o pé” e
registrou o nome da equipe assim mesmo!
Um ano depois, em Setembro
de 1946, os Browns jogaram sua primeira partida profissional em casa (no Cleveland Stadium), diante de uma
platéia de 60.135 torcedores...
E a equipe não decepcionou: derrotou o Miami Seahawks por 44 x 00!
O time de Cleveland
terminou a temporada regular com 12 vitórias e apenas 02 derrotas –
conquistando o título da Divisão Oeste
da AAFC. Na grande final, derrotou o
New York Yankees (homônimo da equipe
de baseball) e levou o primeiro título de sua história...
Em 1947 aconteceu
o bi-campeonato...
Em 1948 veio o
tri-campeonato...
E o tetra aconteceu em 1949!
Seu sucesso pode ser explicado por inúmeros fatores:
* O ataque aperfeiçoou a famosa “formação em T”, passando a adotar a formação “single-wing” (revolucionária para a época e muito mais efetiva);
* Seus colaboradores dedicavam-se em tempo integral à equipe (pois até então, o trabalho de coordenador ofensivo, defensivo, treinadores de Quarterbacks e preparadores físicos eram considerados como “bicos” – feitos por amadores e entusiastas do esporte);
* Paul Brown exigia que seus atletas assistissem a filmes sobre seus adversários e conhecessem bem suas jogadas e táticas, levando-os para salas de aula;
* O treinador também repassava inúmeras jogadas – tanto na teoria quanto na prática; de modo a que cada jogador conhecesse “de cor” o playbook da equipe;
* Ele proibia que seus atletas bebessem, fumassem e fizessem sexo após as noites de terça-feira durante a temporada – e criou o “Esquadrão Taxi”, usando os trabalhadores da companhia de McBride (entre outros torcedores comuns), como “fiscais” ou “olheiros” do comportamento de seus jogadores!
Mas nem sempre o “sucesso” de uma equipe se reflete no
sucesso da liga esportiva – e também em virtude do domínio dos Browns, que desequilibrava a competitividade da AAFC, ano após ano, o interesse do
público diminuía... até que a liga foi extinta ao final de 1949...
Com a dissolução da liga, apenas três equipes foram aceitas
na NFL: Cleveland Browns, San Francisco 49ers e Baltimore Colts!
Logo na primeira partida dos Browns nesta nova competição, Cleveland
enfrentou e venceu, fora de casa, o atual bi-campeão Philadelphia Eagles pelo placar de 35 x 10! Esta foi a primeira das
10 vitórias conquistadas por Paul Brown
neste ano de 1950. E após derrotar o
N.Y. Giants nos playoffs, também venceram
o Los Angeles Rams com um Field Goal no último minuto de jogo!
Em 16 temporadas, Paul
Brown conquistou 12 títulos! Ele foi o primeiro treinador a conquistar
títulos no Futebol Universitário e
na NFL – feito só igualado por Jimmy Johnson e Barry Switzer na década de 1990 (ambos treinadores do Dallas Cowboys)!
Os Browns voltariam
às finais da NFL em 1952 e 1953, mas perderiam ambas para o Detroit Lions...
Antes da temporada de 1954,
McBride vendeu o time para um grupo
de investidores locais (liderados por David
Jones). Paul Brown ficou
chateado (pois não fora consultado sobre a venda), mas os novos proprietários
garantiram que a gestão da equipe permaneceria nas mãos do treinador...
Outro grande problema: Graham
anunciou que a temporada de 1953
tinha sido sua última, mas os Browns
venceram o campeonato de 1954 e
tiveram uma “revanche” contra os Lions!
Este foi o “combustível” que motivou o Quarterback a voltar... e Cleveland terminou a temporada de 1955 com 09 vitórias, 02 derrotas e 01
empate – novamente chegando à final da NFL;
onde derrotaram os Rams e
conquistaram seu segundo título consecutivo! Só então Otto Graham realmente se aposentou...
Com a aposentadoria de Graham
e sem nenhum Quarterback confiável, os Browns
terminaram o ano de 1956 com 05
vitórias e 07 derrotas (primeira temporada de Paul Brown com mais derrotas do que vitórias desde sua chegada à Cleveland). Para tentar reverter esta
tendência de queda no rendimento da equipe, no Draft de 1957, Paul escolheu o Running Back Jim Brown (vindo da Universidade de Syracuse)...
Jim era
considerado “bonitão” e “carismático” (antecipando a tendência atual de “Tom Brady’s”, “Cristiano’s Ronaldo’s” e
“David Beckham’s”), sendo o “queridinho da imprensa”, numa época em
que a “recém-nascida” televisão ajudou a aumentar exponencialmente a
popularidade do futebol americano (que pela primeira vez ultrapassou o baseball
na preferência nacional norte-americana).
Mas é claro que o treinador Brown não gostou nada desta postura de
“estrela midiática” – principalmente
quando o corredor Brown evitava o
contato direto com os oponentes...
Logo na primeira temporada de Jim, os Browns chegaram
à final da NFL – mas novamente
perderam para os Lions (por um
sonoro 59 x 14)! Cleveland não
conseguiu voltar à decisão nos próximos dois anos – período em que o Baltimore Colts dominou a liga e ergueu
duas vezes o troféu...
Para não perder a “estrela” (que sofria constantes assédios das outras equipes), alguns dirigentes passaram a
dar um “tratamento diferenciado” ao corredor – e com isso, outros jogadores do
elenco também passaram a questionar a liderança de Paul Brown...
Em 1958, Cleveland enfrentou o New York Giants precisando de uma
vitória (ou no mínimo um empate) para voltar à final da NFL e encarar os Colts...
No 3º Quarto, os Browns estavam na
linha de 16 jardas
do campo de ataque, vencendo por 10 x 03, e bastava um Field Goal para deixar a vantagem em duas posses de bola! Mas o treinador Brown
manteve seu QB em campo – o que alertou os Giants
sobre um possível “fake kick”. E
os Nova-Iorquinos conseguiram deter o passe – mantendo a diferença em uma posse
de bola! Ao final, os Giants viraram
o jogo (justamente por um FG); e os Browns foram eliminados...
Este jogo deflagrou uma crise sem precedentes em Cleveland!
Paul Brown culpou
seu QB Milt Plum (também draftado em
1957), dizendo que “a
equipe perdeu a confiança em seu comandante nos momentos decisivos do
campeonato”, mas os jogadores culpavam o treinador – por seu estilo
autoritário e descontrolado... Para piorar, Jim Brown foi contratado para um programa de rádio semanal (e claro
que Paul não gostou desta “exposição
midiática”, mas seus superiores expressamente anularam seu veto – minando ainda
mais sua autoridade sobre o elenco).
Nas temporadas de 1959
e 1960, os Browns terminaram em segundo lugar em sua Divisão – embora Jim Brown continuasse quebrando
recordes e liderando a liga nas estatísticas individuais (o que acirrou ainda
mais os ânimos entre treinador e elenco)...
Mas a “gota d’água” foi a chegada de Art Modell...
O empresário nova-iorquino, de apenas 35 anos de idade,
comprou a franquia dos Browns por
US$ 4 milhões (incluindo os 15% das ações pertencentes ao Paul Brown); e
ofereceu ao treinador um contrato de trabalho de oito anos...
Ao assumir a equipe, Art
Modell pretendia desempenhar um “papel mais direto” do que o exercido pelos proprietários
anteriores na “operação da equipe” – e é claro que Paul Brown ficou furioso (pois seu sistema de trabalho só
funcionaria se mantivesse controle total e absoluto sobre os rumos esportivos).
Além disso, Modell era solteiro e
apenas alguns anos mais velho do que os atletas – e por isso começou a ouvir as
reclamações do elenco (em especial da estrela Jim Brown, que o chamava de “irmão mais velho”). Art,
diferentemente dos outros proprietários, gostava de sentar no banco de reservas
durante os jogos – e passou a “palpitar” sobre as jogadas da equipe (aumentando
ainda mais a cisma com Paul Brown).
E se a situação entre o novo Dono, Treinador, Quarterback e Running Back já estava
complicada, piorou sensivelmente após a chegada de Ernie Davis...
Davis também foi Running Back na Universidade de Syracuse, e durante os anos de futebol universitário, quebrou todos os
recordes estabelecidos por Jim Brown
– tornando-se um talento promissor! Porém, antes da temporada de 1962, os médicos diagnosticaram que Ernie sofria de leucemia (grave doença
capaz de encerrar precocemente sua carreira).
Ao saber disto, o treinador Brown negociou sua troca com Bobby Mitchell (corredor do Washington Redskins); sem sequer
informar Art Modell! O proprietário
do Cleveland, surpreso após a
ligação de George Preston Marshall
(proprietário da equipe da Capital Federal), tratou de desfazer o negócio...
Após o tratamento médico e a remissão do câncer, Art Modell pretendia dar a Davis a chance de jogar na sua equipe –
mas Paul Brown não permitia
ingerências no seu time! E nesta guerra de egos inflados, Ernie Davis nunca jogou uma partida profissional – vindo a falecer
em 18 de maio de 1963...
Antes disso (mais precisamente em 07 de Janeiro de 1963), Art
Modell demitiu Paul Eugene Brown da equipe que levava seu nome!
Seus números em Cleveland:
115 vitórias, 49 derrotas e 06 empates; com 07 títulos de Conferência e três títulos da NFL...
Após 30 anos de intenso trabalho como treinador, Paul Brown reservou-se ao direito de tirar
longas “férias” – mantendo-se afastado do futebol... Tornou-se jogador de golfe
(ao lado dos amigos Arnold Palmer e Jack Nicklaus) e viajou pelo mundo,
acompanhado de sua família...
Mas conforme declarou à imprensa, já no final da vida:
- Eu tinha tudo que um homem pode desejar... Lazer, dinheiro suficiente
para uma vida confortável e uma família maravilhosa! No entanto, algo estava corroendo
meu coração e me matando a cada dia... Foi terrível...
Este vazio foi preenchido em 1965, quando Paul Brown recebeu
um grupo de investidores interessados em criar numa nova franquia de futebol
americano profissional. Mas como a NFL
apresentava inúmeras restrições à criação de novas equipes, a alternativa seria
investir numa liga paralela (como a American
Football League) e apostar numa possível unificação futura; tal como vinha
se estudando, principalmente a partir de 15
de Janeiro de 1967, quando o campeão da AFL (Kansas City Chiefs)
enfrentou o campeão da NFL (Green Bay Packers), na disputa do
primeiro Super Bowl...
Desta vez, Paul Brown
não cometeria o mesmo erro cometido em Cleveland
– e exigiu participação majoritária no projeto desta nova equipe (garantindo,
assim, a necessária autonomia de trabalho que seu método único exigia). E graças ao
seu imenso legado no esporte, não foi difícil conseguir a autorização e o incentivo do Governador de Ohio (James Rhodes) para a criação de uma
segunda equipe de futebol profissional no Estado...
Só precisavam planejar ONDE
nasceria esta nova equipe...
Eis que em 1966,
temendo a perda da tradicional equipe de Baseball (Cincinnati Reds), a Prefeitura
de Cincinnati aprovou a construção de uma nova arena esportiva (Riverfront Stadium); com capacidade para
60.000 pessoas!
Situada próxima à tríplice fronteira entre os Estados de Ohio, Kentucky e Indiana; Cincinnati mostrou-se a “escolha
perfeita” para receber uma nova equipe de futebol americano – pois sua imensa
população e relativa proximidade de outros grandes centros (como Columbus, Indianapolis, Louisville
e Lexington), até então sem nenhuma
equipe de futebol profissional nesta região (embora com larga tradição no
esporte universitário), por si só, indicavam um potencial único de atratividade
de investimentos. Ademais, a construção deste novo estádio garantiria o suporte
estrutural necessário para uma nova franquia esportiva – sem que fosse
necessário investir fortunas na construção de uma arena exclusiva!
Em 1967, Paul (desta vez acompanhado de seu
filho Mike) lançou a “pedra fundamental” do projeto –
anunciando a aquisição definitiva da franquia...
Nascia o CINCINNATI
BENGALS!
Sobre a escolha do nome, existem diversas teorias...
A versão “oficial” relata uma “homenagem” ao antigo “Cincinnati Bengals” (fundado em 1937 e
extinto em 1942) – mas particularmente não acredito nela; pois como vimos, o
“metódico” Paul Brown recusou o nome
de “Cleveland Panthers” (pois não
queria “carregar o legado de uma equipe falida”), em circunstâncias idênticas...
Outra versão conhecida nos relata o “lobby” do Prefeito de Cincinnati para a divulgação
do Zoológico local – um dos poucos
nos EUA que contava com tigres-de-bengala! Mas também
existe a possibilidade da escolha ser uma homenagem ao “Massillon Tigers” (primeira equipe do “atleta” e segundo time do
“treinador” Paul Brown)...
Se, por um lado, a origem do nome é controversa, não restam
dúvidas acerca da escolha das cores da equipe: laranja e preto!
O “laranja” é uma clara provocação ao Art Modell (pois também era a cor predominante no uniforme do Cleveland Browns) e o “preto” representa justamente este
“luto” pela mágoa de Paul com sua
ex-equipe... Mas estas cores também estão
associadas à camuflagem natural dos tigres-de-bengala,
numa feliz e “inesperada” coincidência, não é?
Qualquer que seja a verdade,
sabemos que Paul Brown continuou
trabalhando como “presidente/treinador”
até a temporada de 1975 –
permanecendo como “dono da franquia”
até sua morte, ocorrida em 05 de Agosto
de 1991...
Seu filho, Mike Brown, ainda comanda a equipe... Mas é claro que não detém nem
10% do conhecimento, brilhantismo e genialidade de seu pai – um verdadeiro
“monstro” na história da NFL!
Obrigado, mestre!
E que teu legado em Cincinnati seja perpétuo!
Afinal de contas... WHO DEY???
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