“Torcer para os Bengals é um privilégio para poucos! Não porque somos
uma torcida “exclusivista”, “xenofóbica” ou “racista” (bem longe disso!). É que
muitos não agüentam a pressão! As desilusões! As dores do fracasso! Penso que
torcer para os Bengals é igual estar casado com uma mulher linda! Daquelas que literalmente
param o trânsito! Que “arrasam-quarteirão”! Que te encantam no primeiro olhar e
te leva a loucura na cama! Mas que, exatamente por isso, vai te dar muita dor
de cabeça...”
É com esta reflexão – um misto de Vinicius de Moraes e
Reginaldo Rossi (dois ídolos brasileiros que perdemos em 2013); que começamos a
resenha da última partida dos Bengals nesta temporada...
Neste domingo, numa tarde fria de 05 de Janeiro de 2014, no
Paul Brown Stadium, em Cincinnati, Ohio, EUA; os Bengals foram novamente
derrotados na Rodada de Wild Card – desta vez perderam para o San Diego
Chargers pelo placar de 27 x 10...
Mesmo sob a chuva gelada, Phillip Rivers mostrou uma
precisão invejável nos passes; e a equipe californiana só precisou adotar uma
postura “conservadora” ao longo da partida – errando pouco e aproveitando os
muitos erros do ataque de Cincinnati (foram quatro turnovers – três deles no
segundo tempo); para garantir sua passagem para a próxima fase (onde encaram os
Broncos, em Denver, no próximo domingo, às 19:30 – horário de Brasília).
Mas o grande mérito da improvável classificação dos Chargers
deve ser creditado à sua defesa! A 23ª no ranking de jardas totais cedidas aos
adversários na temporada regular conseguiu anular completamente o ataque aéreo
dos Bengals; e ainda pressionou bastante nosso QB – interceptando dois passes;
derrubando-o três vezes e forçando dois fumbles!
Andy Dalton terminou a partida completando 29 dos 51 passes
tentados (aproveitamento de 56,9%); conquistando 334 jardas e 01 passe para TD.
Mesmo assim, seu “passer rating” foi de 67 (graças às 02 INT’s, 03 Sack’s e 02
Fumbles – um deles perdido). O Ruivo também correu cinco vezes com a bola e
garantiu outras 26 jardas terrestres.
Por outro lado, Phillip Rivers acertou 12 passes dos 16 que
lançou (aproveitamento de 75%); garantindo 128 jardas aéreas – com 01 passe
para TD e nenhuma INT. Só foi derrubado uma vez e não sofreu nenhum fumble...
Se Cincinnati conseguiu bem mais do que o dobro de jardas
aéreas; San Diego foi muito superior no jogo terrestre (196 jardas dos Chargers
contra 113 dos Bengals). Este domínio, somado aos quatro turnovers que nosso
ataque sofreu; foram suficientes para quebrar a seqüência de nove vitórias
consecutivas em casa – e nem a nossa excelente defesa, trabalhando muito bem
(para variar...), conseguiu evitar a eliminação dos Bengals...
Curiosamente, a última derrota dos Chargers aconteceu no dia
01.12.2013, em casa, para os Bengals; pelo placar de 17 x 10. Naquela
oportunidade, Cincinnati venceu com relativa tranqüilidade – aproveitando-se
dos três turnovers sofridos por San Diego!
Mas pelo visto, eles aprenderam a
lição... “e quem com ferro fere...”
Esta foi a primeira vitória dos Chargers nos playoffs desde
2008 (quando venceram os Colts, na prorrogação, por 23 x 17). Jogando fora de
casa, em estádio aberto, a última vitória de San Diego na pós-temporada havia
sido na decisão da AFC de 1994 (quando derrotaram os Steelers por 17 x 13)...
A primeira posse de bola da partida pertenceu aos Chargers,
mas a equipe visitante só conseguiu uma 1ª descida e foi obrigada a chutar a
bola para Cincinnati. Nossa primeira campanha ofensiva também não rendeu muitos
frutos – duas primeiras descidas; e Zoltan Mesko (Jogador romeno, com passagens
pelos Patriots e Steelers, contratado esta semana como Punter para substituir a
“lenda” Shawn Powell – que chutou um punt por 10 jardas contra os Ravens na
última rodada) devolveu a bola para San Diego.
Mas já na próxima campanha, Phillip Rivers mostrou que
estava em uma tarde inspirada – e com grandes passes para Ladarius Green e
Danny Woodhead, conseguiu levar a equipe auri-celeste à linha de cinco jardas
do campo de ataque – facilitando o TD do “Cabeça de Madeira”. Após o chute de
Extra Point, Chargers na frente: 00 x 07...
O 2º Quarto começou de modo bizarro: Andy Dalton sofreu um
fumble na linha de 46 jardas do nosso campo de defesa; mas por sorte, o Ruivo mesmo
recuperou a bola! Era um indício de uma longa tarde para a torcida dos
Bengals...
Somente na terceira campanha ofensiva é que Cincinnati
acordou! Alternando corridas de BenJarvus Green-Ellis e Giovani Bernard, os
Bengals cruzaram o campo numa campanha de pouco mais de seis minutos; e
Jermaine Gresham recebeu passe curto (04 jardas) para invadir a End Zone! Tudo
igual no placar: 07 x 07!
A quarta campanha ofensiva dos Chargers também não rendeu
sequer uma primeira descida; e faltando 03:37 para o intervalo, os Bengals
teriam uma nova chance para virar o placar! Desta vez, o foco do ataque foi o
jogo aéreo – mas como A.J. Green estava sempre marcado por dois ou três
atletas; o jeito foi mirar em Marvin Jones... e Jones brilhou! Nosso camisa nº
82 recebeu um passe longo (49 jardas) de Andy Dalton; e só foi derrubado na linha
de 16 do campo de ataque!
Após a parada do Two-Minute Warning, o Ruivo fez um passe
curto para Gio Bernard – e nosso garoto “atrevido” começou a driblar a marcação
e a avançar rumo à End Zone para virar o placar... quando Donald Butler acertou
a bola e forçou um fumble, faltando apenas quatro jardas para nosso TD; sendo recuperado
pelo Cornerback Richard Marshall...
Por sorte, nossa defesa trabalhou bem – e gastando nossos
três “tempos” para travar o relógio, conseguimos recuperar a bola para uma
última campanha ofensiva do primeiro tempo (faltando 01:14 para o intervalo).
Andy Dalton, claro, arriscou passes... e os Bengals
conseguiram chegar à marca de 28 jardas do campo de ataque; faltando dois
segundos para acabar o primeiro tempo. Daí, Mike Nugent conseguiu converter um
FG de 46 jardas!
Bengals 10 x 07 Chargers!
O 3º Quarto começou com uma excelente corrida de BJGE de 12
jardas; mas Dalton voltou a arriscar passes (sem sucesso); e a campanha
terminou com o Ruivo sendo derrubado atrás da linha de scrimmage...
San Diego também apostou nos passes curtos, mas
diferentemente de Dalton, Rivers estava com uma pontaria excelente – e dez
jogadas depois, Lardarius Green recebeu um passe de quatro jardas para virar o
placar...
Bengals 10 x 14 Chargers...
Segundo a mal-fadada Lei de Murphy: o que está ruim pode
piorar! E muito! Andy Dalton foi para mais um “shotgun”; mas não encontrou
nenhum alvo “descoberto”... O jeito foi correr com a bola – e o Ruivo é muito
bom nisso! Conseguiu conquistar 12 jardas; mas o novato Jahleel Addae forçou o
fumble e recuperou a bola para os Californianos na marca de 46 do campo de
ataque...
Apesar do bom trabalho de nossa defesa, cedendo poucas
jardas por tentativa, prevaleceu a máxima “água mole, pedra dura, tanto bate
até que fura!”. E embora não tenha sido um desastre completo, Nick Novak chutou
um FG curto, de 25 jardas, para ampliar a vantagem dos visitantes: Bengals 10 x
17 Chargers...
Estava complicado mas ainda era possível vencer! Afinal,
faltando 02:00 para o fim do 3º Quarto e jogando em casa; a diferença de apenas
uma posse de bola é razoável...
Mas o Ruivo continuou apostando nos passes...
E numa 3ª para 08, na linha de 26 do nosso campo de defesa,
Dalton tentou um passe curto para Mohamed Sanu... mas no meio do caminho estava
Shareece Wright! E o Cornerback não apenas interceptou, como também retornou
por 30 jardas – só sendo derrubado pelo próprio Sanu na marca de 03 jardas do
campo de ataque!
Mais uma vez, a defesa de Cincinnati “salvou o dia” – e os
visitantes tiveram que se contentar com outro FG curto (este de 23 jardas)...
Bengals 10 x 20 Chargers...
Perdendo por duas posses de bola no começo do último Quarto;
Andy Dalton continuou forçando passes... um atrás do outro! Desta vez, porém, a
torcida se encheu de esperanças – e a campanha que começou na linha de 11
jardas do campo de defesa já estava posicionada em uma 1ª para 10 na marca de
35 do campo de ataque!
Mas o Ruivo voltou a errar feio...
Melvin Ingram, talentoso Linebacker segundo-anista,
interceptou o passe de Dalton para Tyler Eifert; e San Diego retomou a bola já
no campo de ataque... mais uma vez!
Apesar da excelente posição de campo, os Chargers adotaram
uma política “conservadora” – o que facilitou o trabalho de nossa defesa; que
conseguiu devolver a bola para Cincinnati, faltando pouco mais de oito minutos
para acabar o jogo!
Como o relógio era nosso maior inimigo e os Bengals
começaram na linha de 12 do campo de defesa; só nos restava acreditar nos
passes de Andy Dalton! E o Ruivo até que foi bem – variando os alvos e
conquistando bons avanços; até a linha de 41 da defesa rival...
Desta vez, pelo menos, não houve interceptação...
Só uma jogada idiota mesmo!
4ª para 03 jardas, faltando 04:50 para terminar o jogo, com
os Bengals perdendo por duas posses de bola...
É claro que Cincinnati tentaria a conversão!
Afinal de contas, estávamos muito longe para chutar um FG...
Mas o que qualquer um faria numa situação dessas?
Claro... colocaria a bola nas mãos de BJGE e rezaria para
que o “trator” conquistasse estas três jardas, certo?
Pois é... Eu faria isso! Você, caro leitor, faria isso! Até
meu avô, que provavelmente nunca viu uma bola oval na vida, faria isso!
Mas não o nosso Treinador Marvin Lewis! Não o nosso
Coordenador Ofensivo Jay Gruden! Lógico que não! Afinal, eles são “gênios”,
correto?
E lá foi Andy Dalton tentar um quase “Hail Mary” para Marvin
Jones...
Obviamente não funcionou!
E San Diego retomou a bola, faltando 04:44 para acabar o
jogo...
Assim como aconteceu no primeiro tempo, os Chargers foram
conservadores e tentaram três “corridas” – cientes de que uma primeira descida
bastaria para liquidar a partida! E Cincinnati, sem nada a perder, apostou mais
uma vez em sua defesa... paralisando o cronômetro três vezes com seus “tempos”!
Assim como aconteceu no primeiro tempo... funcionou! E os
Bengals tentariam uma última investida – faltando 04:22 para o fim da partida
(mas sem “tempos” para pedir!).
Mais uma vez Dalton forçou passes...
Mais uma vez não deu em nada!
E os Chargers receberam a bola na marca de 40 do campo de
defesa, faltando 03:07 para acabar o jogo...
As arquibancadas do Paul Brown Stadium já estavam vazias...
Estava claro que o sonho havia acabado...
Mas poderia ficar pior... e ficou!
O experiente Running Back Ronnie Brown (precisava ter este
sobrenome?), que marcou época na segunda metade da década passada jogando pelos
Dolphins (e depois vestiu a camisa dos Eagles, antes de chegar aos Chargers em
2012); recebeu a bola na linha de 42 jardas do campo de defesa e correu por 58
jardas – para anotar o último TD da partida! Este foi o TD corrido mais longo
sofrido pelos Bengals na pós-temporada...
Nick Novak, convertendo o Extra Point, jogou a “pá de cal”
sobre a campanha de Cincinnati... que perdeu por 27 x 10!
A última campanha de Cincinnati terminou na marca de seis
jardas do campo de ataque; de forma melancólica, simbolizando um pouco do que
foi esta temporada! Grandes avanços... mas na hora da decisão, os erros pesaram
e “morremos na praia”...
Mais uma vez!
Com mais esta derrota, os Bengals igualam o sexto maior “jejum”
de vitórias na pós-temporada da história da NFL (a última alegria da torcida de
Cincinnati aconteceu nos playoffs de 1990 contra o Houston Oileres, no antigo
Riverfront Stadium, por 41 x 14). Só para se ter uma idéia de quanto tempo faz:
nem o Riverfront Stadium e nem os Oilers existem atualmente! Aliás, em 1990, o
Presidente do Brasil era o Fernando Collor de Mello; os aparelhos de televisão à
cores eram um “luxo”; “internet” mal passava de uma curiosa novidade dissecada
pela revista Superinteressante; e a Seleção Brasileira de Futebol ainda era
tri-campeã do mundo! Se enveredarmos pelos gramados brasileiros, veremos que o
Corinthians acabava de conquistar seu primeiro campeonato nacional; e o SPFC
sequer havia conquistado a sua primeira Libertadores da América!
É, meus amigos... faz tempo!
Andy Dalton, que levou os Bengals aos playoffs em seus três
primeiros anos como profissional (e a equipe foi derrotada três vezes na Rodada
de Wild Card – feito inédito na história da NFL); estava visivelmente abatido
após a partida:
- Não importa o que você faça durante a temporada regular se você não
for bem nos playoffs... É decepcionante... Fizemos muitas coisas boas este ano,
mas perdemos em casa e teremos que carregar esta mágoa até o início da próxima
temporada...
Outro sob grande pressão é o Treinador Marvin Lewis – que nos
onze anos à frente da equipe de Cincinnati, perdeu todas as cinco partidas de
pós-temporada que disputou! Quem acompanha as postagens deste blog sabe que, ao
longo das últimas duas temporadas, fiz críticas contundentes ao seu trabalho (e
principalmente ao seu excessivo “conservadorismo”). Evidentemente, não se trata
de desmerecer o profissional Lewis (que assumiu a “pior franquia da NFL” e, em
diversas oportunidades, teve que “recomeçar do zero” – enfrentando muitas
crises nesta última década). Mas acredito que, graças ao seu próprio trabalho,
os Bengals são, hoje, uma equipe forte da NFL (apenas cinco times conseguiram
chegar aos playoffs por três vezes nos últimos três anos – e somos um deles!);
e como tal, precisam de um “capitão” preparado para ousar mais...
É preciso perder esta mentalidade de “time pequeno” e deixar
a equipe voar!
Phillip Rivers, na entrevista coletiva pós-jogo, resumiu a
postura de sua equipe e não deixou de criticar o “salto alto” dos Bengals:
- Nós estávamos confiantes e sabíamos que podíamos vencê-los! Estudamos
nossos erros e treinamos bastante para aprimorar nossos pontos fracos! E o
mesmo vale para o próximo jogo, contra Denver... Só é preciso tomar cuidado
para não entrar em campo confiantes demais! Sabemos que o favoritismo é todo
dos Broncos... Assim como era dos Bengals na partida de hoje, pois eles foram
ao nosso Estádio e nos derrotaram a cinco semanas... A verdade é que a forma
como a nossa defesa jogou nos garantiria um bom resultado sob quaisquer
circunstâncias de jogo... Então só precisávamos tomar conta da bola para não
fazer nenhuma grande besteira no ataque! Esta postura conservadora pode não
encantar a torcida, mas certamente nos rendeu bons frutos hoje...
Eric Weddle, um dos destaques da linha defensiva dos
Chargers, também estava empolgado após a vitória:
- Foi uma loucura! Entramos confiantes e sabíamos que esta seria a
nossa vez! Nós temos uma equipe incrível e, principalmente no segundo tempo,
conseguimos dominar a partida, pressionando bastante nossos adversários!
Conseguimos manter Andy sob pressão e tirá-lo de sua zona de conforto! Nós o
derrubamos algumas vezes e conseguimos forçar grandes turnovers; que foram
decisivos para o resultado final!
Justiça seja feita: San Diego foi mesmo melhor!
Sua defesa, de fato, anulou a conexão Dalton-Green (A.J. Green
terminou a partida com três recepções e apenas 34 jardas) e manteve o “Red
Rifle” pressionado – forçando passes ruins e subjugando nossa linha ofensiva.
Em certos lances, parecia que o “pocket” não existia e o Ruivo estava
completamente desprotegido! Se o ataque dos Chargers não foi brilhante (fato
reconhecido por Rivers); foi ao menos eficiente – e “de grão em grão, a galinha
azul e amarela encheu o papo”!
Mas é claro que a derrota passa por outra péssima atuação de
Dalton!
Na pós-temporada, em três jogos disputados, o Ruivo tem três
derrotas – acertou 70 de 123 passes tentados (aproveitamento de 56,9%);
conquistando 718 jardas; com apenas 01 passe para TD e 06 Interceptações!
Aliás, é o grande número de Interceptações que o fazem ser um QB tão
questionado – apesar dos demais índices estarem muito acima da média!
Claro que seus erros podem ser creditados à sua
inexperiência (afinal, ainda está no seu terceiro ano como profissional e,
desde o início, carrega sob os ombros a responsabilidade de conduzir uma equipe
talentosa; mas que sempre fraqueja nos momentos decisivos). Também podem ser
creditados ao Técnico e Coordenador Ofensivo (que nem sempre fazem boas
escolhas de jogadas). E até a linha ofensiva carrega sua parcela de culpa –
pois não vem protegendo-o adequadamente no pocket...
Mas a verdade é que todos nós, torcedores dos Bengals,
estamos sem paciência!
Sabemos que temos um excelente time (até porque poucos
conseguem terminar uma temporada regular com 11 vitórias – mesmo enfrentando
uma das tabelas mais complicadas). Reconhecemos que Dalton é talentoso e terá
um futuro brilhante na NFL. Sabemos que nosso ataque é um dos mais versáteis da
Liga. E a nossa defesa é a melhor dentre todos os times classificados para esta
pós-temporada!
E mesmo assim... não podemos confiar em vitórias!
Mesmo contra adversários claramente inferiores!
E esta “falta de confiança” acaba envenenando o coração...
Exatamente como o marido de uma esposa devassa...
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