No último dia 12 de Março, às 17:00 horas (horário de
Brasília), começou oficialmente a temporada 2013 da NFL. Mas não se animem:
ainda falta um bom tempo até que a primeira bola oval levante vôo nos céus de
Cincinnati!
É que neste período, as equipes recebem autorização da Liga
para negociarem seus atletas – seja através da renovação de contratos; ou
buscando no mercado aqueles que estão desempregados (ou que deixarão seus times
atuais).
São os chamados “Free
Agent’s”!
Cabe aqui um parênteses importante: diferentemente do que
acontece no futebol tradicional, onde os atletas que se destacam em ligas
menores ou clubes de menor expressão são rapidamente “canibalizados” pelas
equipes mais ricas; na NFL, existem dezenas de mecanismos que impedem a criação
de “esquadrões galáticos”...
Se por um lado, dificilmente teríamos um “Barcelona”, “Real Madrid” ou “Manchester
United” na NFL; por outro lado jamais teríamos um desequilíbrio de forças
tão grande quanto observado nestas ligas (ou alguém aí acredita que o Getafe será campeão espanhol nos
próximos... 20 anos?).
Imagine que a NFL fosse administrada pela CBF (sim, também
me deu calafrios pensar nisso...). Claro que o primeiro passo seria abolir a
regra do “Salary Cap” (ou “teto salarial”, em tradução livre).
Afinal, quem não gostaria de assistir a um jogo no Cowboys Stadium, onde veríamos o “American Team” com Robert Griffin III no pocket,
olhando para os lados e encontrando A.J.
Green correndo pela esquerda; Megatron
correndo pela direita; mas optando por passar a bola para uma corrida do Sproles?
Mas por outro lado... como ficariam os Redskins, Bengals, Lions e Saints? As equipes menores seriam meros “fornecedores” de
mão-de-obra para Patriots, Giants, Steelers, Packers, Niners e Cowboys?
Eu gosto de citar o clube de coração do meu pai: o Guarani Futebol Clube, da cidade de
Campinas, interior de SP; fundado em 1911 e que conquistou o título brasileiro
de 1978; o vice-campeonato brasileiro em 1986; por duas vezes foi vice-campeão
paulista (1988 e 2012); e chegou em terceiro lugar na Taça Libertadores da
América (1979).
Trata-se de uma equipe centenária, com história e tradição
nos gramados, que durante muito tempo figurou entre as principais forças do
futebol brasileiro; e que revelou muitos atletas para a Seleção Brasileira
(como Careca, Amoroso, Neto, Djalminha,
Zenon, Renato, Luizão, Ricardo Rocha, Jorge Mendonça e tantos outros
craques).
Porém, hoje encontra-se em vias de falência...
Como foi que isso aconteceu? Simples...
Junte num caldeirão uma legislação esportiva cretina (como a
“Lei Pelé”, que arruinou a estrutura dos clubes menores, fortalecendo a atuação
dos “empresários”); acrescente uma distribuição desigual de receitas dos
campeonatos (calculada sob o número de torcedores); e doses cavalares de
incompetência administrativa (para não acusar ninguém de “furto” e “roubo”,
certo Beto Zini?); temperada por uma
gestão corrupta da CBF; e reserve... A falência de um clube poderá ser servida
em pouco tempo!
Nas últimas décadas, o Guarani colecionou sucessivos “rebaixamentos”,
além de problemas trabalhistas e inúmeras execuções patrimoniais, que ameaçam
seriamente sua existência futura... Ouso dizer que se não fossem seus
torcedores, estimados em quase meio milhão de pessoas, a equipe campineira já
não existiria!
Mas vejam: no Campeonato Paulista de 2012, o Bugrão fez uma
excelente campanha! Terminou a primeira fase entre os oito melhores clubes e,
nos playoffs, derrotaram o gigante Palmeiras
e a Ponte Preta (sua maior rival);
só parando na final, diante de um Santos
inspirado por Neymar e companhia...
E o que aconteceu?
No período de pouco mais de três semanas entre a final do
Paulistão e o início do Campeonato Brasileiro, TODOS os atletas que haviam se destacado na campanha já
haviam deixado o clube... Tanto que hoje, passado pouco menos de um ano, o
Guarani conta com UM ÚNICO ATLETA
(o lateral Oziel) que disputou
aquela final...
E esse atleta está no banco de reservas...
Alguém duvida que, se a CBF assumisse o controle da NFL, em
pouquíssimo tempo as equipes ditas “menores” sofreriam de um destino parecido
com o do Guarani?
A política da NFL de implementar um “teto salarial”, um
“draft” ordenado pela ordem inversa da classificação obtida no ano anterior
(falaremos mais sobre o Draft em Abril), a distribuição igualitária da renda
obtida com direitos de transmissão e produtos licenciados, e tantos outros
mecanismos “socialistas”; garantem que o faturamento “capitalista” de todos os
envolvidos seja absurdamente maior!
E mais do que isso: garante o equilíbrio esportivo entre as
equipes – possibilitando que as equipes menores (como os Bengals) mantenham
seus talentos (como o A.J. Green); e que equipes maiores (como os Cowboys) não
monopolizem as estrelas da Liga!
(Mas vá falar para algum dirigente do Corinthians ou Flamengo
que eles deveriam receber o mesmo que o Atlético
Goianiense...).
Como vemos no quadro abaixo, antes de iniciadas as
transações do período de Free Agent, os Bengals possuíam a maior “folga” em
relação ao “teto” (que em 2013 gira em torno de US$ 121 milhões). Isto
significa que, em tese, a equipe poderia gastar US$ 55,4 milhões e, ainda sim,
estaria dentro do limite máximo de despesas...
Só para se ter uma idéia do que isso representa, as
negociações mais badaladas até agora foram a contratação de Ed Reed pelo Houston
Texans (que deixou o atual campeão Baltimore Ravens por um contrato de três
anos e US$ 16 milhões); e as renovações de Calvin “Megatron” Johnson (que
ficará nos Lions por mais 05 temporadas e receberá US$ 8,7 milhões por ano) e
Tony Gonzalez (que permanecerá nos Falcons por mais duas temporadas, recebendo
US$ 14 milhões).
Isto significa que, se Mike Brown resolvesse “abrir os
cofres”, poderíamos oferecer contratos idênticos a estes três atletas; sem
sequer abrir mão de Dalton, Green, Green-Ellis e nenhum outro jogador!
Mas a verdade é desanimadora...
Até o presente momento (dia 29.03.2013, às 17:00 horas –
horário de Brasília); os Bengals contrataram apenas o QB reserva do Cleveland
Browns: Josh Johnson!.
Como assim? Você não conhece este “craque”?
Ele tem 26 anos, nascido em Oakland e formado pela
Universidade de San Diego. Foi draftado em 2008 pelo Tampa Bay Buccaneers e
jogou pela equipe da Flórida por quatro temporadas; quando foi contratado pelos
Browns em 2012. Ele jogou 27 partidas oficiais pela NFL (apenas uma por
Cleveland – a derrota para os Steelers, por 24 x 10, na última rodada da
temporada 2012). Muito promissor, não?
É louvável o esforço da Diretoria em renovar com seus
atletas; mantendo-os por mais uma (ou mais) temporadas em Cincinnati; mas a
verdade é que a torcida esperava mais!
Até agora renovamos com a “lenda” Rey Maualuga (MLB), o DE Robert
Geathers, o DE Wallace Gilberry,
o CB Adam Jones, o TE Richard Quinn, o LS Clark Harris; o T Dennis Roland e o WR Brandon
Tate (que no Madden 2013, em terceiras descidas, já me garantiu grandes vitórias,
mas na vida real...).
Além deles, temos o DE Michael
Johnson sob “Franchise Tag” (significa que o atleta garantiu um contrato de
um ano, recebendo um salário maior ou igual à média dos cinco maiores salários
de jogadores que atuam nesta mesma posição; impedindo que o jogador negocie com
outras equipes).
Por outro lado, perdemos o K Josh Brown (que foi para os Giants); o QB reserva Bruce Gradkowski (que foi para
Pittsburgh); o OLB Manny Lawson (que
foi para os Bills); o DT Pat Sims (que
jogará em Oakland); e o LB Dan Skuta
(que foi para San Francisco).
As negociações continuam... Temos ainda os “RFA’s” (Restricted Free Agent’s:
podem assinar com qualquer equipe, mas os Bengals podem simplesmente igualar a
proposta para mantê-los no elenco): WR Marvin
Jones e SS Jeromy Miles; e como “UFA’s” (Unrestricted Free Agent:
onde não há qualquer privilégio na negociação): SS Nate Clements; SS Chris
Crocker; LB Thomas Howard; RB Brian Leonard; CB Terence Newman; RB Bernard
Scott; e o T Andre Smith.
Felizmente, não corremos um sério risco de perder nossos
principais atletas…
Mas a Diretoria sinalizou que não pretende “gastar” o “Salary Cap” trazendo uma grande estrela
para o elenco; e que acredita no trabalho de Marvin Lewis com esses garotos – quem sabe, acrescentando bons
valores no Draft 2013.
Para o locutor de rádio Dave
Lapham, que a muito tempo comenta as notícias dos Bengals para a NFL.COM:
“O jogador draftado em 10º lugar tem as mesmas qualidades de um jogador
draftado na posição de nº 50. Por isso, mais importante do que escolher um único
nome, é adotar uma estratégia. Um bom Draft é aquele em que você pode ajudar
seu elenco, reforçando posições com três dos melhores 54 calouros disponíveis.
E porque não escolher quatro? Não será fácil, evidentemente... mas se surgir
uma oportunidade de troca, eu aceitaria num piscar de olhos!”
Faltando pouco menos de um mês para o Draft 2013; os especialistas
divergem bastante sobre quem será a primeira escolha de Cincinnati. Para Geoff Hobson, editor do site BENGALS.COM,
será o Free Safety Kenny Vaccaro
(Texas). Já para Joe Reedy, do Cincinnati
Enquirer, a escolha dos Bengals será entre os FS Matt Elam e Jonathan Cyprien
(ambos da Flórida). Lapham, por sua vez, aposta no TE Tyler Eifert (Notre Dame).
Outros nomes que ganham força são do CB Desmond Trufant (Washington); o T Menelik Watson (Florida State); e dos Defense End’s Sam Montgomery (LSU); Alex Okafor (Texas) e Damontre Moore (Texas A&M).
Correndo por fora, temos ainda o QB E.J. Manuel (não, ele não é português – vêm do Tallahassee); o WR Keenan Allen (Califórnia); OT D.J. Fluker (Alabama) e DE Bjoern Werner (Flórida State).
Eu, particularmente, não estou tão “otimista” quanto os
especialistas...
Primeiro porque, convenhamos: nossa posição no Draft 2013 é
muito ruim (primeira escolha na 21ª posição?).
Segundo porque a defesa dos Bengals mostrou-se muito
forte... na segunda-metade da temporada regular – enfrentando equipes já “combalidas”
ou “classificadas” (fatores que reduzem sensivelmente o poderio ofensivo dos
adversários).
Terceiro porque o ataque dos Bengals mostrou-se “sofrível”,
extremamente dependente de atuações brilhantes de A.J. Green e de BenJarvus
Green-Ellis. Por sorte, eles apareceram em jogos decisivos e conseguimos boas
vitórias...
Mas quando REALMENTE precisamos deles (como no jogo contra o
Houston)...
Ressalto que não sou CONTRA esta política de preservar o
nosso elenco 2012!
Muito pelo contrário!
Acredito, sim, em Andy Dalton ! E A.J. Green será um dos grandes
nomes da história!
O problema é que faltam nomes de respeito... Faltam atletas
tarimbados e experientes, capazes de exercer uma liderança em campo, quando a
coisa fica “preta”!
Quantas vezes não vimos o Ruivo errando lances bobos, sob
pressão?
Acho que com esta “folga” no Salary Cap, poderíamos montar
uma equipe poderosa, capaz de fazer frente a qualquer adversário...
E não custa lembrar que, este ano, nossa tabela não será nada
“simples”! Temos pela frente uma divisão complicada (com o atual campeão Ravens,
os Steelers “mordidos” e um Browns num estágio evolutivo muito parecido com os
Bengals de 2012); além de confrontos com duas divisões poderosas, como a AFC
East (Patriots, Jets, Bills e Dolphins); e a NFC North (Packers, Vikings, Bears
e Lions); além de duelos contra Colts e Chargers...
Ou a Diretoria começa a investir IMEDIATAMENTE... ou já
podemos pensar na grande reformulação da Temporada 2014!
Para encerrar, deixo um grande abraço para meu amigo Caio Sguerri,
pobre torcedor dos Bengals (e do Liverpool... e do Palmeiras... coitado...); que
fez aniversário neste mês de março – e como “presente”, deu a si próprio um boné
oficial da equipe de Cincinnati (matando de inveja este redator...). Desejo que
em seu próximo aniversário, ainda estejamos de ressaca, celebrando o inédito título
do Superbowl!